Croundfounding , Cultura Empreendedora e Organizacional , Gestão , Inovação
Acabei de ver um vídeo da Claudia Feitosa-Santana (Pós-doutora em neurociências integradas pela University of Chicago) sobre o desastre de Brumadinho, em que ela aborda o estado de negação, que levou a Vale a não tomar os devidos cuidados. Alguém pode estar pensando: “Negação, não. Foi pura negligência, incompetência ou descaso!".
Considerações à parte, no vídeo ela comenta como o nosso cérebro evoluiu e como nós evitamos as incertezas no sentido amplo (riscos, ambiguidades e dúvidas) e que, por isso e muitas vezes diante delas, negamos-as. Esta negação, de forma coletiva, gera catástrofes devido à “cegueira ética”.
Isto me fez lembrar do framework Cynefin e seus quadrantes. Para quem não conhece, ele ajuda na tomada de decisão ao indicar as melhores formas de lidar com os sistemas de acordo, principalmente, com suas relações de causa e consequência.
À direta do quadro estão os grupos "Complicado" e "Simples" que são os sistemas "ordenados", ou seja, que apresentam relações claras de causa e consequência.
Já do lado esquerdo do quadro estão os grupos "desordenados", composto pelos grupos "Complexo" e "Caótico". Nestes grupos não há a possibilidade de se estabelecer claramente as relações de causa e consequência.
Para sistemas ordenados é possível fazer uso do conhecimento de especialistas e de melhores práticas. São problemas preditivos. Os sistemas desordenados necessitam de abordagens mais experimentais por meio de práticas novas e emergentes como o Agile onde pode-se conduzir mudanças de forma "evolutiva".
Você deve estar pensando: Qual a relação?
Eu acredito que, muitas vezes e diante de problemas complexos, tentamos agir como se tivéssemos um problema complicado, preditivo.
Um exemplo claro é a forma como eu tenho visto muitas implementações Agile onde, na minha opinião, instala-se frameworks como Scrum, organiza-se a empresa em Squads e escala-se com SAFe.
A transformação ágil é um problema complexo, pois você precisa entender o estado atual, a cultura da empresa, o ambiente, os processos e depois, através de experimentações, ir mudando / transformando o todo da empresa na direção de um mindset Agile. O fato de você rodar Scrum e ter seu time organizado em Squads não torna, automaticamente, a sua empresa ou equipe em ágil.
O mindset Agile deve ser impulsionado pela entrega de valor, e não dirigido por um plano preditivo. 😉
As empresas / equipes que desejam fazer a transformação ágil precisam entender que este é um caminho de incertezas. As relações de causa e efeito na reorganização da empresa e times, nas mudanças nos processos e etc. são um problema complexo e que, portanto, precisam ser feitos aos poucos e através de muita experimentação.
Minha conclusão é que precisamos evitar a armadilha da negação gerada pela incerteza da verdadeira transformação Agile, ter paciência e fazer muita experimentação neste processo de forma evolutiva. Simplesmente adotar Scrum, organizar a empresa em Squads e escalar com SAFe pode não trazer o valor desejado.
Links:
Video: https://www.youtube.com/watch?v=Yad3Hh0MpUo
Framework Cynefin: https://en.wikipedia.org/wiki/Cynefin_framework
Manifesto Agil: http://www.manifestoagil.com.br
Texto por:
Leandro Garcia e originalmente publicado no LinkedIn.
20 . 04 . 2021
Redação Campinas Tech