Governança e Compliance para Startups

Governança e Compliance para Startups | Foto por drobotdean no Freepik.

Não é de hoje que tocar uma empresa no Brasil é um grande desafio, não importando o tamanho dela (pequena, média ou grande). É contabilidade, impostos, contratação, demissão, impostos, licenças, alvarás, impostos, declarações, demonstrações... Ah! eu já falei impostos?!

Muitas vezes os fundadores de uma startup começam bem, super empolgados e envolvidos com sua inovação e seu projeto, até que de repente temos as indagações como: você já revisou seu contrato social? Quais atividades você vai exercer? Qual será opção tributária Simples Nacional, Lucro Presumido ou Lucro Real?

E daí pronto, a energia desses empreendedores começa a ser compartilhada e tragada para os trâmites da pessoa jurídica. Quando não, fica esse item negligenciado através de delegação (ou muitas vezes “delargação” à terceiros) que passam a gerir o patrimônio de sua empresa de forma despersonalizada gerando riscos fiscais, financeiros, tributários ou trabalhistas.

Diante desta situação, todos os anos de energia e construção podem ser desperdiçados em autuações fiscais ou então passivos identificados por grupos de investidores ao avaliarem seu negócio na busca de um valor para sua empresa (Valuation). E acreditem, já vimos casos de desvalorizações milionárias por passivos não identificados previamente.

Senhoras e senhores, vamos lá, por que isso acontece?

Há um fator histórico muito importante de ser analisado aqui. De forma bem resumida, as pequenas e médias empresas no Brasil gerem seus negócios por fluxo de caixa. Se tem dinheiro no caixa, bom sinal; se falta, é um problema; mas se repôs, vida que segue. E não é bem assim.

A contabilidade de uma startup deveria ser o principal instrumento de análise dos sócios da empresa, principalmente uma startup que tem os números todos na mão e uma contabilidade bem simplificada (aqui entende-se enxuta enquanto estrutura e não que ela seja fácil).

É com a contabilidade que os fundadores e gestores de uma startup poderão verificar o crescimento patrimonial dos seus ativos intangíveis, tangíveis, seus recursos financeiros, e finalmente seu lucro!

Mas como dito anteriormente, sempre que converso com o fundador de uma startup e pergunto como anda a gestão da sua empresa, suas demonstrações contábeis, etc...a resposta é padrão: “Ah, eu pago tudo certinho, tenho um contador muito bom, não tenho problemas com impostos, pago tudo certinho.”

Ora meus caros, contabilidade é um dos principais instrumentos da Governança e espinha dorsal do Compliance. Sua contabilidade interna ou seu contador externo é muito mais, mas muito mais mesmo, do que apurador de impostos e folha de pagamento.

Ele deveria ser um dos seus maiores conselheiros, pois ele acompanha o dia a dia da sua empresa, cada investimento, cada lançamento, cada ato ou fato que afetam seu lucro ou prejuízo da cia, cada item que aumenta ou consome o patrimônio da sua startup.

Assim, lhes digo se você não analisa mensalmente ou trimestralmente seus balancetes me atrevo a dizer que você não está acompanhando devidamente os números da sua startup. Feito todo esse preambulo, vamos ao cerne dessa publicação.

Governança e Compliance para Startups

A Governança e o Compliance serão um instrumento de gestão e valorização da sua startup se você quebrar o primeiro paradigma corporativo da sua cabeça: “Mas Governança e Compliance não são instrumentos de gestão para grandes empresas e multinacionais listadas na bolsa?”

NÃO! Desculpem a energia na afirmação, mas é porque se faz necessário quebrar esse tabu mesmo. Temos que ter orgulho em falar que nossa startup tem instrumentos de Governança e Compliance.

Para tanto vamos para a prática. Como implantar isso em sua empresa?

Por óbvio as pequenas e médias empresas trabalham com uma gestão de recursos financeiros e investimentos em consultorias especializadas bem enxuta. Por muitas vezes, não se cogita contratar consultores especializados no assunto com receio do custo desse investimento.

Porém, hoje com as soluções de consultorias digitais, isso está mudando significativamente. Independente de possuir ou não uma consultoria externa, a empresa precisa adotar as políticas de Governança e Compliance.

Isso pode vir de um investimento acompanhado de Smart Money ou seguindo os procedimentos abaixo:

  1. Eleja um sócio ou colaborador responsável pela Governança e Compliance;
  2. Mapeamento dos instrumentos indispensáveis para alta gestão (sugestões):
    1. Balanço anual;
    2. Balancete mensal;
    3. Fluxo de caixa (cash flow);
    4. CND´s (certidões negativas);
    5. Análise de indicadores de lucratividade e financeiros.
  3. Adote políticas de processos e procedimentos nos principais departamentos:
    1. Financeiro (com alçadas, procurações, tokens, ...);
    2. Compras e Suprimentos (políticas de requisições, aprovações, cotações, ...);
    3. Jurídico (confidencialidade -NDA, LGPD, proteção dos códigos, ...).
  4. Estabeleça uma reunião mensal, trimestral ou no máximo semestral sobre o tema.

Após a evolução dessa primeira fase e conforme o crescimento da estrutura organizacional da startup e a maturidade da empresa, poderemos avançar os estágios da Governança indo sentido a criação de Conselhos, Planejamentos Estratégicos, KPI´s (indicadores de desempenho), bônus e PLR, entre inúmeros outros instrumentos de Governança.

Muitos me perguntam: e qual o fim disso? O fim não sei, mas o novo começo seria uma maturidade tal que a empresa, se assim for a intenção de seus gestores, alcance o IPO (Initial Public Offering), sendo essa a oferta pública de ações; alçando voos ainda mais altos; sendo essa uma crescente tendência no mercado brasileiro se comparado aos mercados internacionais.

Assim meu caro startupeiro, saiba que a implantação da Governança na sua empresa pode e deve ser feita desde o início. Dessa forma, facilitando toda sua caminhada empreendedora independente do seu tamanho, chegando a rodadas de investimento com segurança das informações para uma Due Diligence ou um Valuation sem muitas ressalvas ou surpresas. Mas, principalmente, para que você tenha tranquilidade na gestão de seu patrimônio e que você possa focar naquilo que sua empresa veio solucionar no Brasil e no Mundo!


Redação por:
Lincoln Diones Martins, Sócio na Voilier Auditoria e Consultoria Empresarial.