Um dia internacional para todos nós

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Tudo o que eu quero é que as mulheres sintam gratidão ao terminar este texto. Este artigo não será direcionado para elas repleto de floreios e congratulações, mas para todos que gostariam de entender o porquê deste dia está ocorrendo e o motivo da sua recorrência anual.

Um passado logo alí

No século XX, o contexto social era bem diferente. Para o mercado ainda não havia formalização de mão de obra, quais modelos de produção seriam mais adequados e, no pior caso, tivemos a pior fase de instabilidade emocional e financeira da história por conta das duas grandes guerras mundiais e a Guerra Fria.

Homens eram obrigados a ocuparem os campos de guerra, já as mulheres deveriam suprir tanto as suas atividades domésticas quanto o chão de fábrica. Infelizmente, muitas solteiras e viúvas não possuíam direitos civis básicos para que fizessem uma boa gestão das suas finanças, atuassem com liberdade no mercado de trabalho e tivessem o mínimo atuação em ações políticas.

Em 26 de agosto de 1910, Clara Zetkin propôs a criação do Dia Internacional da Mulher, como uma jornada anual de manifestação pelo direito de voto para as mulheres e pela igualdade de gênero.

No Brasil, as mulheres passaram a votar somente em 1932, e ainda na década de 60 as mulheres casadas precisavam da autorização legal do marido para participar do mercado de trabalho. “Só em 1988, a Constituição mudou a lei e consagrou a igualdade entre homens e mulheres. Ainda assim, a desigualdade segue presente”, pontua Regina Madalozzo, professora e pesquisadora na área de economia do trabalho com foco no mercado de trabalho para as mulheres.

Já em 1975, foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o chamado Dia Internacional da Mulher, que então é comemorado anualmente para lembrar as conquistas políticas e sociais, bem como também reforçar a importância de expandir essas pautas.

Lélia Gonzalez, nascida no ano de 1935, deixou a capital mineira quando criança com a família para recomeçar a vida no Rio de Janeiro. Exerceu as funções de empregada doméstica e babá, uma realidade bastante comum das mulheres negras até hoje. Ativista do Movimento Negro, autora de uma riquíssima literatura sobre amefricanidade, ela foi figura extremamente importante internacionalmente na pauta sobre o sexismo, que muitas vezes impunha ao segmento feminino contínuos processos de silenciamento.

Lélia fortaleceu a busca pela visibilidade das mulheres negras no mercado e nas corporações, e o quanto o resultado da desigualdade social afetava todas elas.

Refletindo no presente

Nesta jornada extremamente cansativa e árdua pela busca pelo reconhecimento como uma boa profissional, mulheres com o mesmo nível técnico e tempo de experiência ganham, em média, 20,5% menos que os homens no país.

Os homens se solidarizam com a causa, mas nem eles entendem direito porque isso acontece.

As mães ainda tentam não ser culpabilizadas pela maternidade, mas infelizmente 48% das mulheres que tiram licença-maternidade estão fora do mercado de trabalho, um padrão que se perpetua inclusive 47 meses após a licença. A maior parte das saídas do mercado de trabalho se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador. Seus parceiros também se sentem afetados por terem parte da renda doméstica comprometida e lidar com a tristeza da parceira demitida.

A mulher no empreendedorismo

Nas startups e corporações as mulheres representam 50% dos empreendedores em estágio inicial e 43,5% dos empreendedores estabelecidos no Brasil, segundo o estudo Global Entrepreneurship Monitor de 2019. Porém, a maioria dos negócios encabeçados por mulheres não recebem apoio ou aporte financeiro pelas mesmas serem julgadas como imaturas ou por simplesmente não existem.

Paralelamente, 59% dos brasileiros não se sentem muito confortáveis com uma mulher como CEO ( relatório “The Reykjavik Index for Leadership”) — o cargo mais alto de liderança em uma empresa, mesmo que os dados comprovam que companhias com mais mulheres na liderança, quando comparado com a média da indústria, vê um resultado operacional 48% maior e uma força de crescimento no faturamento 70% maior.

Vale considerar também que ter pelo menos uma mulher na liderança diminui a falência de empresas em 20% (pesquisa realizada pela McKinsey Study).

O futuro precisa ser agora!

Desde setembro de 2015, representantes dos 193 Estados-membros da ONU se comprometeram com a Agenda 2030, onde o plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Trata-se de um plano para governos, sociedade, empresas, academia e para você.

Dentro dos 17 Objetivos temos o Objetivo 5: Igualdade de Gênero. Nele visa-se alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas.

Com isso devemos abraçar todas as pautas relacionadas com a saúde física e psicológica, proteção contra a violência e a exploração sexual, segurança para trabalhar livre de assédio, direito a remuneração igualitária, direito ao maternar e garantir da participação feminina em todas oportunidades de liderança.


Texto por:
Dayse Alexia, Gestora de Projetos na Campinas Tech.