5 tarefas para um ecossistema mais diverso à comunidade LGBTQIA+

5 tarefas para um ecossistema mais diverso à comunidade LGBTQIA+ | Foto por jcomp no Freepik.

Mais que puramente simbólico,  28 de junho é o dia de celebrar o orgulho e a história de luta de toda a comunidade LGBTQIA+.  A data, que não foi escolhida ao acaso - já falamos dela aqui no blog - parece vir selar um mês inteiro de discussões, reflexões e ações em prol da comunidade.

No entanto, se posicionar apenas nesse mês não é o suficiente. É preciso agir em prol da diversidade e inclusão todos os dias e com ações concretas.

Pilar de sustentação de qualquer ecossistema empreendedor, a diversidade e inclusão de pessoas da sigla é uma maneira de impactar socialmente essa população, ao mesmo tempo que traz mais inovação e crescimento para negócios e comunidades.

A comunidade LGBTQIA+ no ecossistema

Hoje, no Brasil, estima-se que há pouco mais de 13 mil startups. Dados de uma pesquisa feita pela Abstartups (Associação Brasileira de Startups) mostram que dentre os criadores de negócios com base tecnológica do país, apenas 3,9% possuem fundadores que se declaram homossexuais (o G e o L). Nas demais letras da sigla, a representatividade é ainda menor: 1,5% se identificam como bissexuais, 0,1% como transgêneros e 0,2% como pertencentes a outras siglas.

Empregabilidade LGBTQIA+

Sem dúvidas, aumentar a taxa de empregabilidade de pessoas da comunidade é uma das melhores e mais eficazes maneiras de tirar as pessoas LGBTQIA+ das margens da sociedade, impactando socialmente e economicamente essas pessoas.

Porém, dados da Abstartups ainda nos mostram um cenário desafiador. Se por um lado, 75,1% das startups brasileiras acreditam que apoiar a diversidade e inclusão em seus negócios é um fator importante, outras 19,5% consideram que é importante, mas não essencial e 5,4% acham que o estímulo a essas iniciativas é “pouco importante” ou “nem um pouco importante”.

Apesar de relativamente alta a primeira porcentagem, na prática o impacto não se concretiza: apenas 3,3% das startups possuem pelo menos um colaborador transgênero, por exemplo.

Hora de tornar o ecossistema mais colorido!

Seja para aumentar a taxa de empregabilidade, ou então aumentar o número de empreendedores pertencentes a sigla, é fundamental que comunidades e ecossistemas se posicionem e criem ações para incluir pessoas LGBTQIA+.

Todos, de grandes corporações a startups, podem se movimentar para garantir a inclusão e, ainda mais importante, o acolhimento dessas pessoas.

E como fazer isso? Bem, nós temos algumas dicas e exemplos do que já está sendo feito por aqui.

1. Comitês de Diversidade & Inclusão

Manter um comitê de Diversidade & Inclusão é uma das maneiras mais eficazes de se discutir a experiência e vivência de pessoas LGBTQIA+ no ambiente corporativo. Dessa forma, ele pode funcionar como uma rede de apoio interna entre as pessoas pertencentes a comunidade e se torna essencial para o acolhimento.

Além disso, a presença de um comitê é o espaço ideal para se discutir e articular ações em prol da diversidade dentro e fora da empresa.

Hoje, é fácil encontrar comitês de diversidade em grandes empresas - Superlógica, IBM e Ambev são algumas das corporações aqui de Campinas e região que mantêm grupos do tipo - mas não é uma exclusividade para elas. Pequenas empresas e startups podem unir seus colaboradores LGBTQIA+ na criação de um comitê único e assim criar uma rede de apoio ainda mais diversa.

2. #PrideSkill

Na busca de talentos ou na criação de processos seletivos, ter um RH orientado para a diversidade, criar ações afirmativas e vagas exclusivas para a candidatura da comunidade LGBTQIA+ é uma alternativa de garantir que essas pessoas se engajem e se sintam confortáveis em ocupar espaços nas empresas.

É comum, sobretudo startups, terem dificuldade em aumentar seus colaboradores pertencentes à sigla pela falta de meios de identificação de profissionais do grupo. Por isso, a #PrideSkill pode ajudar.

Recentemente, a multinacional P&G e o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+ lançaram uma campanha para conectar profissionais LGBTQIA+ a empresas preocupadas com a diversidade. A campanha incentiva que os profissionais desse grupo adicionem a categoria “pride” na seção skills do Linkedin, tornando mais fácil a busca pelos recrutadores.

Além disso, hoje existem vários projetos que podem ajudar no recrutamento de pessoas com esse perfil, e que de fato impactam a comunidade, como o Projeto Transpor, a Camaleao.co, a Transempregos, dentre outros.

3. Formando profissionais

Iniciativas como a Pride Skill são importantes, mas estão longe de resolver o problema que é o acesso da pessoa LGBTQIA+ na área de tecnologia e inovação.

Pelos mais variados motivos e estigmas que membros da comunidade sofrem, grande parte não tem a segurança psicológica e econômica para garantirem formação escolar, acadêmica e profissional. É comum ter histórias de pessoas que largam os estudos por bullying, por terem sido expulsas de casa muito cedo e não encontrarem empregos formais pelo simples fato de serem quem são.

É válido para todo ecossistema que quer ser diverso e inclusivo pensar em alternativas para garantir formação para que essas pessoas comecem ocupar espaços no mercado de trabalho.

No ecossistema campineiro, a Share RH, com o apoio de outras empresas, lançaram o Pride Dev, programa de formação em linguagens de programação exclusivo para pessoas LGBTQIA+.

Iniciativas assim são importantes para a inclusão desde a base do negócio, e são modelos replicáveis para formar talentos em todas as áreas de uma empresa.

4. Protagonismo e Plano de carreira

Incluir pessoas LGBTQIA+ na base é importante, mas para impactar de fato é preciso ir além. É importante que as empresas do ecossistema tenham planos de carreira e deem condições para que essas pessoas cresçam e ocupem cargos de liderança.

Uma ação bem vista tanto por questões de governança, mas também de representatividade e legitimação das intenções realmente inclusivas da empresa.

Isto faz com que cada vez mais pessoas da sigla a se sintam representadas e estimuladas a ocupar espaços no mercado, bem como ajuda no combate a preconceitos, que é uma dor bastante difícil de resolver.

5. É preciso formar empreendedores mais coloridos!

Em uma breve reflexão, é fácil constatar através de experiências puramente pessoais que os ecossistemas empreendedores e inovadores são, ainda hoje, ocupados em sua maioria por homens cisgêneros e brancos.

É preciso de mais mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência e, claro, LGBTQIA+, ocupando esses espaços e trilhando jornadas empreendedoras e inovadoras. E uma maneira de ultrapassar barreiras sociais e estimular a presença dessas pessoas como protagonistas em um ecossistema é criando oportunidades para elas nesse sentido.

Eventos e desafios especialmente dedicados ao público LGBTQIA+, como hackathons, são uma boa maneira de trazer a jornada empreendedora como alternativa de carreira para membros da comunidade.

Além disso, empreendedores e outros agentes do ecossistema podem criar programas de mentoria ou se colocarem disponíveis para ajudar a desenvolver ideias de pessoas da comunidade que queiram iniciar sua jornada empreendedora.

Por fim, é preciso salientar que, mais do que pela responsabilidade social - fato por si só importantíssimo - a inclusão e diversidade LGBTQIA+ nos ecossistemas é uma forma de potencializar a inovação. São pessoas com formações variadas, experiências de vida distintas, visões de mundo diferentes e outras necessidades.

E para inovar é preciso que haja conexões de informações distintas, o que não se consegue em um espaço ocupado por iguais.


Redação por:
Felipe, da Campinas Tech.